
Actualmente, falar de Jornalismo implica falar da Internet e das transformações que a tecnologia provoca nesta área. Não restam dúvidas que os meios tradicionais de comunicação aproveitam a evolução tecnológia de forma a melhorarem a sua actividade. De facto, as rotinas jornalísticas de produção de informação estão a mudar em função da
Revolução Digital a que assistimos; "o jornalismo online não exterminou o jornalismo noutros media, mas modificou-o, obrigando-o a uma adaptação constante, num processo que Roger Fidler denomina mediamorfose", segundo o professor da Universidade Fernando Pessoa,
Jorge Pedro Sousa.
Os profissionais da área da Comunicação usufruem, na sua actividade quotidiana, das funcionalidades da rede. Surge o JAC - Jornalismo Assistido por Computador. Esta definição reflecte as inovações que o computador trouxe para o jornalismo, tanto na recolha de notícias como no respectivo tratamento e difusão dos conteúdos, sendo a Internet uma componente fundamental e, sobretudo, cómoda. Contudo, a abundância de informação, o número descontrolado de fontes noticiosas tornam a actividade do jornalista mais complicada, sobretudo no que diz respeito à selecção de informação e à avaliação da veracidade dos factos/acontecimentos.
Em Portugal, o Ciberjornalismo foi implementado há 14 anos.
Hélder Bastos, professor na Universidade do Porto e ciberjornalista, identifica três fases na evolução do ciberjornalismo no país: a da implementação (1995 - 1998), a da expansão ou 'boom' (1999 - 2000) e a da depressão/estagnação (2001 - 2008). Segundo o autor de "Jornalismo Electrónico - Internet e Reconfiguração de Práticas nas Redacções", a última década traduz um período longo e experimental, repleto de hesitações por parte das empresas jornalísticas nacionais.
Neste contexto, é essencial distinguir conceitos - Jornalismo Online de Ciberjornalismo. De forma sucinta, Jornalismo Online designa todo o jornalismo que é publicado na rede, um instrumento privilegiado para contactar com as fontes e pesquisar. Já o Ciberjornalismo ou Jornalismo Digital refere-se a tudo o que é realizado "na rede e para a rede", um jornalismo que utiliza as tecnologias digitais.
A evolução do Jornalismo para o Ciberjornalismo também pode ser traçada em três fases: na primeira, os jornais limitaram-se a transferir conteúdos dos seus produtos originais para a rede; na segunda, houve a criação de material original e o seu enriquecimento com hiperligações; na terceira,os jornais começaram a criar material original para a Web e a colocá-lo exclusivamente "online". As primeiras redacções online surgem na viragem do século e reflectem um frenético período de novidade e expectativa.
Inicialmente visto como um complemento ao jornalismo tradicional, as publicações onlines são hoje um dos principais meios de informação por parte dos consumidores. Assim, as redacções constataram que não era suficiente estar na Internet para usufruir de vantagens competitivas - era índispensável criar produtos específicos para a rede. Isto conduz-nos a algumas das características que hoje em dia os jornais online ostentam. De uma maneira sistemática, podemos destacar algumas das principais características do jornalismo digital: interactividade, hipertexto, hipermédia, glocalidade, personalização, instantaneidade, navegabilidade.
A verdade é que hoje a Internet coloca questões à actividade jornalística. Uma delas remete para a ameaça do ciberjornalismo ao jornal em papel. Estatísticas revelam que o número de leitores das edições online têm vindo a aumentar de forma exponencial, em detrimento dos consumidores de jornais em suporte físico. A expectativa e os estudos académicos rondam esta questão. Por outro lado, surge a problemática do próprio futuro do jornalismo, "O jornalista pode ter deixado de possuir a função quase exclusiva de gatekeeper do espaço público informativo. Os jornais e os restantes meios jornalísticos online competem com um número inquantificável de sites onde é possível ir beber directamente a informação, sem passar pelo crivo do jornalista", afirma Jorge Pedro Sousa. Contudo, esta conpetição pode tornar-se em complementaridade, devido à navegabilidade da rede - uso de hiperligações de forma a complementar a informação.
Outras questões recaem sobre a Internet e o seu impacto na actividade jornalística. Será a rede um suporte da actividade ou está a crescer um novo meio de comunicação? Será necessária uma nova ética para os ciberjornalistas? Qual será a diferença entre jornalista e ciberjornalista? A realidade é que actualmente, mais do que Era da Informação, vivemos também na Era da Polivalência, o que pode responder à questão.
Hélder Bastos defende que "o ciberjornalista precisa também de perceber o ambiente – interactivo, informal, conversacional, 2.0 – da Web, o que nos conduz à questão da renovação na aproximação. A questão da ética é também importante: há um património comum de valores e standards partilhados por jornalistas e ciberjornalistas (esta distinção é um pouco instrumental, mais do que real ou efectiva), mas estes debatem-se com questões, sem precedentes, levantadas, quer pela natureza do meio, quer pela falta de regras claras em relação a diversas matérias, incluindo as legais."
O Jornalismo e a Internet constroem uma nova realidade, repleta de ilusões e expectativas, mas também com lacunas no que diz respeito ao seu futuro e à sua real capacidade de mudar a Era Informativa. Além de estar à distância de um clique, a actividade jornalística urge em tornar-se cada vez mais segura e fiável.